O mistério do "aquecimento global" desaparecido


Onde está o "aquecimento global"?

A “pausa” no aquecimento global é cada vez mais encarada como uma realidade. No último dia 21 de Janeiro, a agência espacial norte-americana (NASA) e a administração oceânica e atmosférica nacional (NOAA) organizaram uma conferência de imprensa conjunta para apresentar os dados de temperatura da superfície da Terra em 2013 e reconheceram a existência de uma “pausa” no aquecimento global, que já se verifica desde 1997.

De acordo com as conclusões apresentadas, na última década as variações de temperatura não foram estatisticamente significativas. “Temos analisado os dados em diferentes âmbitos e [esta “pausa”] parece estar parcialmente associada a uma variabilidade interna do sistema”, declarou Gavin Schmidt, climatologista do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA. A apresentação da NASA e da NOAA mostra, “em resumo, a continuação da «pausa» na temperatura global superficial que, de acordo com algumas estimativas, teve início em 1997”, escreve o britânico David Whitehouse, doutorado em Astrofísica e editor do “The Global Warming Policy Foundation”, um think-thank dedicado à análise e debate de questões relacionadas com as “alterações climáticas”. “Considerando que o [Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC)] estimava uma subida média da temperatura global de 0,2ºC, o mundo está agora 0,3ºC mais frio do que devia”, rematou Whitehouse.

Mas essa não foi a única conclusão apresentada na conferência de imprensa. No que diz respeito às coberturas geladas do Árctico e da Antárctica, que os modelos dos cientistas do IPCC diziam estar em processo acelerado e irreversível de fusão, contribuindo para um aumento do nível médio do mar que iria submergir as zonas costeiras de todo mundo, os resultados são bastante diferentes das previsões. De acordo com os dados disponibilizados pela NASA, através do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC), depois do Árctico ter perdido quase um milhão de quilómetros quadrados de gelo entre 2003 e 2007 (cerca de dez vezes a área de Portugal), nos últimos anos têm-se verificado uma estabilização da cobertura gelada. O ano de 2013 foi até de acentuada recuperação, com a área de gelo do Árctico a atingir níveis equivalentes aos de 2005. Quanto à área gelada da Antárctida, desde que se iniciaram as medições por satélite em 1979 a cobertura de gelo do Pólo Sul tem aumentado de forma consistente e significativa. Uma tendência que atingiu o pico em 2013 e promete não parar por aqui. Nas últimas semanas, têm sido batidos todos os registos máximos existentes da cobertura de gelo da Antárctida. No último dia 23 de Janeiro, a cobertura gelada da Antárctida era 1,2 milhões de quilómetros quadrados superior à média registada para este dia entre 1981 e 2010.

A existência de uma “pausa” no aquecimento global já foi assumida por entidades como a NASA e o IPCC. Explicar esta ocorrência é o desafio do momento. A revista “Nature” chama ao “hiato” o maior mistério das ciências do clima. O problema tem intrigado a comunidade científica, que tem tentado fornecer explicações para o calor desaparecido, já que o comportamento do clima tem contrariado todas as previsões que o IPCC realizou nas últimas décadas. Até porque as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa continuaram a aumentar no mesmo período. Alguns estudos apontam como motivos para a estabilização das temperaturas a redução da actividade do sol, o aumento das partículas lançadas para atmosfera por vulcões ou a contribuição da poluição atmosférica. Por outro lado, há uma justificação que tem ganho cada vez mais adeptos entre a comunidade científica e que remete a responsabilidade para os oceanos.

No entanto, a peça chave para resolver o 'puzzle' do “hiato” no aumento das temperaturas pode contribuir para deitar por terra as teorias do “aquecimento global” antropogénico. Muitos investigadores acreditam que a resolução do enigma da “pausa” do aquecimento global pode passar pela variação da circulação dos oceanos, conhecida como “Pacifical Decadal Oscillation” (PDO), no caso do Oceano Pacífico.
Índice de "Pacific Decadal Oscillation" (PDO) segundo observações desde 1900.

Índice de "Pacific Decadal Oscillation" (PDO) e variação de temperatura (Fisheries and Oceans Canada).
Ciclos positivos do PDO coincidem com aumentos de temperatura.

O PDO é no fundo um padrão baseado num conjunto de parâmetros que estão associados a variações cíclicas nas temperaturas superficiais do oceano pacífico. Segundo os especialistas, podem identificar-se duas fases — uma quente (ou positiva) e outra fria (ou negativa) —, registando inversões de fase a cada 25 ou 30 anos. Na sua fase positiva, o PDO está associado a um aumento da temperatura dos oceanos que contribui para o aquecimento da atmosfera. Após algumas décadas de libertação de energia, o ciclo inverte-se e inicia-se uma fase negativa, que traz águas mais frias das profundezas dos oceanos e contribui para o arrefecimento do planeta. Este mecanismo foi descoberto em 1997, mas só recentemente começou a ser estudado de forma mais aprofundada. Segundo Don J. Easterbrook, do Departamento de Geologia da Western Washington University, desde que existem registos directos de temperatura é possível identificar “dois períodos quentes do PDO (1915-1945 e 1978-1998) e três períodos frios (1880-1915, 1945-1977, 1999-2014)”. “Se a fase negativa do PDO iniciada em 1999 persistir, o clima global arrefecerá nas próximas décadas”, afirma Easterbrook. A contribuição do PDO e da circulação dos oceanos para a variação global das temperaturas globais tem levado a cada vez mais pesquisas. No ano passado, dois investigadores da Universidade da Califórnia, Shang-Ping Xie e Yu Kosaka, investigaram a influência das variações de temperatura da superfície do mar nas últimas décadas na região Este do Pacífico no resto do globo. O modelo criado não só recriou o “hiato” no aumento da temperatura, mas reproduziu também algumas tendências sazonais e regionais que marcaram este período. Poderão as variações de temperatura da Terra estar mais relacionadas com os padrões de circulação dos oceanos do que com a emissão de gases de efeito de estufa? O debate está só a começar.
Artigo publicado na edição de 28 de Janeiro de 2014 do semanário «O Diabo».

Sem comentários:

Enviar um comentário