Arrefecer o "consenso científico" com o aquecimento do Árctico durante a Idade Média

Quando se fala de «alterações climáticas», um dos mitos mais difundidos é o de que existe um «consenso científico em torno da responsabilidade do ser humano no aquecimento global». Quase sempre, esta frase é acompanhada por um número mágico: «97% a 98% dos cientistas consideram que o ser humano é o principal responsável pelo aquecimento global». Mesmo que tal consenso existisse, isso não quereria dizer grande coisa. Já se registaram grandes revoluções em vários campos da ciência, em que teorias instituídas foram parcial ou totalmente substituídas por novas teorias. Mas a verdade é que esse consenso não existe. Um estudo publicado em 2013, no qual foram analisados cerca de 120 000 resumos de artigos editados em publicações cientificas com revisão por pares (peer-review) entre 1991 e 2011 com as palavras-chave "alterações climáticas" ou "aquecimento global", concluiu que dois terços (66,4%) dos artigos não continuam qualquer tomada de posição quanto à responsabilidade do ser humano no "aquecimento global". Só apagando todos estes artigos da equação os autores conseguiram chegar, convenientemente, ao valor de 97,1% para a percentagem de cientistas que consideram as "alterações climáticas" como resultado da acção humana. O que não surpreende, conhecendo a enorme pressão em torno da comunidade científica para que se assumam essas conclusões.

(a) Total de resumos classificados como «apoio», «rejeição» ou «sem posição». Repare-se no grande crescimento do número de artigos sem posição após 2006; (b) Percentagem de resumos por classificação. Repare-se na progressiva diminuição de artigos que apoiarm o aquecimento global antropogénico.

Ainda assim, vão surgindo regularmente artigos que contrariam directa ou indirectamente o suposto consenso científico em torno das «alterações climáticas». Na semana passada foi publicado na revista Global and Planetary Change o artigo «A 70-80 year peridiocity identified from tree ring temperatures AD 550 – 1980 in Northern Scandinavia», da autoria de investigadores finlandeses do Instituto de Meteorologia da Finlândia e da Universidade de Helsínquia, que reconstrói as temperaturas da Fennoscandia do Norte (no Círculo Polar Árctico) nos últimos 1600 anos e chega à conclusão que o Árctico era mais quente durante no chamado Período Quente Medieval do que na actualidade. Curiosamente, nenhuma das palavras-chave do artigo (Paleoclimate; Scandinavia; tree-ring temperatures; Torneträsk data; volcanic cooling; oceanic oscillations) é «aquecimento global» ou «alterações climáticas», logo este artigo não teria sido contabilizado em estudos como o anterior. O que é uma pena, visto dedicar-se precisamente a um tema que os cientistas adeptos das teorias do aquecimento global antropogénico tendem a desvalorizar: o Período Quente Medieval.

O Período Quente Medieval foi um período, entre os séculos IX e X, em que as regiões do Atlântico Norte sofreram um aumento geral da temperatura. Alguns estudos indicam que o fenómeno foi global. Este aumento de temperatura é suportado tanto por registos históricos como por dados científicos. Admite-se que as temperaturas do Período Quente Medieval criaram condições favoráveis à expansão dos povos escandinavos, o que levou à criação de colónias na Islândia, na Gronelândia e até na América do Norte. Colónias que foram abandonadas quando surgiu em 1200 a chamada Pequena Idade do Gelo. Da mesma forma, há registos de que durante o Período Quente Medieval zonas da Escócia e da Noruega se tornaram produtoras de vinho. No entanto, de acordo com as teorias do aquecimento global antropogénico, numa era como a Idade Média sem indústria responsável por emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa, não há razões para se verificar um aumento de temperatura tão significativo como este. Razão que leva os cientistas do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC) a varrer o Período Quente Medieval para baixo do tapete.

Eppur si muove! Através do estudo de anéis de 65 árvores do período entre 441-1980 d.C., os investigadores finlandeses fizeram uma reconstituição das temperaturas de Torneträsk em várias escalas temporais e os resultados a que chegaram confirmam a existência de um Período Quente Medieval. Quanto às causas que levaram a estas variações de temperatura, dependendo da escala estudada, são identificados diversos factores, como episódios vulcânicos que se pensa terem afectado o transporte de calor no Atlântico Norte, ou oscilações naturais cíclicas da temperatura dos oceanos, que podem estar ligadas a variações na cobertura de gelo do Árctico. De qualquer forma, é possível identificar na reconstituição final a existência de um Período Quente Medieval com temperaturas superiores às que hoje se registam no Árctico.

Reconstrução da temperatura na região do Árctico apresenta o Período Quente Medieval com temperaturas superiores às actuais.

Área de gelo na Antárctida continua a bater recordes

Entretanto, no Pólo Sul continuam a bater-se recordes. No último dia 24 de Janeiro bateu-se pela sétima vez em 2014 o recorde diário da área de gelo da Antárctida. Este ano promete ser excepcional, continuando a contrariar os resultados dos modelos do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas que prometiam a fusão do gelo do Pólo Sul. Desde 1979, quando se iniciaram as medições por satélite, nunca se registou maior área de gelo na Antárctida.

Valor diário da área gelada da Antárctida (via Sunshine Hours).

Agitação marítima em Portugal: os "eventos extremos" estão a tornar-se mais frequentes?

É uma pena que em Portugal, ao contrário do que se passa nos EUA e em outros países da Europa, a quantidade de dados meteorológicos e climatéricos disponibilizados livremente na internet seja tão reduzida. Por exemplo, o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), que representava uma excelente fonte de dados para diversas finalidades, encontra-se praticamente inutilizável, já que «a manutenção das estações de monitorização automáticas está suspensa desde meados de Março de 2010». Como tal, a própria página avisa que «os dados não são totalmente fiáveis».

Quanto às bóias ondógrafo mantidas pelo Instituto Hidrográfico (IH), embora alguma informação esteja disponível em linha, o volume de dados a que é possível ter acesso é bastante limitado. Ainda assim, é possível visualizar dados de agitação marítima relativos à última década.

Agitação marítima registada pela bóia ondógrafo de Sines (IH).

Agitação marítima registada pela bóia ondógrafo de Faro (IH).

Apesar de o período temporal em análise não ser muito representativo, não é possível identificar qualquer tendência nos gráficos anteriores, tanto para os valores de altura máxima como de altura significativa (correspondente à média do terço superior das alturas de onda). O que reforça a ideia de que, ao contrário do que é repetido pela generalidade da imprensa e certos sectores científicos, no que diz respeito à agitação marítima os eventos extremos não têm vindo a tornar-se mais frequentes. Se os danos provocados por tempestades na costa portuguesa se têm avolumado, isso tem mais a ver com deficiente planeamento e ordenamento do território do que propriamente com alterações climáticas.

NASA e NOAA confirmam que a "pausa" no aquecimento global continua

Numa conferência de imprensa conjunta realizada no último dia 21 de Janeiro, a a NASA apresentaram dados relativos à temperatura da superfície da Terra em 2013. Uma das conclusões reveladas é a continuação da "pausa" no aquecimento global, que se iniciou em 1997. Ao longo deste período a variação das temperaturas globais não é estatisticamente significativa. De acordo com uma tabela com os dez anos mais quentes em relação à média registada entre 1880 e 2013, há apenas 0,09ºC a separar os dez anos mais quentes.


Segundo o The Global Warming Policy Foundation, quando questionados sobre a "pausa", os cientistas Gavin Schmidt da NASA e Thomas Karl da NOAA falaram da contribuição de vulcões, poluição, diminuição da actividade solar e variabilidade natural. «Por outras palavras, não sabem» a que se deve esta interrupção.

Do vórtice polar ao aquecimento global: uma verdade inconveniente


Aquecimento global? Uma verdade inconveniente
Uma vaga de frio atingiu na semana passada a América do Norte, com ventos polares que provocaram frio, neve e uma redução abrupta das temperaturas para valores mínimos históricos, levando ao encerramento de escolas e ao cancelamento de milhares de voos nos Estados Unidos e Canadá. O frio polar congelou extensas áreas da América do Norte mas reacendeu a discussão em torno do “aquecimento global” e das “alterações climáticas”.
O fenómeno meteorológico pode ser explicado por uma deformação do vórtice polar, uma massa de ar frio e denso que circula normalmente pelo Árctico e que pode, por vezes, dividir-se e expandir-se para latitudes mais baixas. Há quem veja neste fenómeno uma contradição das teorias das “alterações climáticas”, mas há também quem atribua esta vaga de frio justamente ao “aquecimento global”. É o caso da revista “Time”, que no dia 6 de Janeiro publicou um artigo associando a vaga de frio à fusão do gelo do Árctico provocada pelo “aquecimento global”. Curiosamente, da última vez que ocorreu um fenómeno semelhante, em 1974, a revista “Time” anunciou o início de uma era de “arrefecimento global”. Na opinião de Cliff Harris, climatologista norte-americano e autor do blogue “Cliff Mass Weather Blog”, “estes relatos falsos já provocaram danos substanciais, com muitos americanos a acreditar que o aquecimento global está a tornar os invernos mais extremos, quando não existem evidências que o suportem. Um dia os sociólogos estudarão esta situação e os elementos psicológicos que levaram a ela”. A maior parte dos especialistas considera que a deformação do vórtice polar é um fenómeno natural e não tão invulgar quanto se possa pensar. É o caso de Will Harper, físico premiado e professor da Universidade de Princeton (EUA): “sempre existiram vórtices polares. Têm pouco a ver com a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera”.
Ao contrário do que se possa pensar, as “alterações climáticas” não são um assunto unânime para a comunidade científica. Há quem considere que as temperaturas estão a aumentar e quem defenda que as alterações do clima estão associadas a flutuações naturais. Há quem ache que as alterações climáticas se devem à intervenção do ser humano (causas antropogénicas) e quem considere que não se devem desprezar outros factores naturais (como a variação da radiação solar ou a chamada “pacific decadal oscillation”). De qualquer forma, contrariando as projecções catastrofistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU (IPCC), tem-se assistido a uma estabilização das temperaturas médias globais desde 1998, apesar de as emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito de estufa terem continuado a aumentar. As previsões mais alarmistas têm falhado em toda a linha.
A 10 de Dezembro de 2007, no discurso de aceitação do Prémio Nobel da Paz, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore afirmou que em sete anos a cobertura gelada do Árctico “desapareceria por completo”. Não só esta previsão não se verificou como em 2013, de acordo com o “Centre for Ocean and Ice” do Instituto de Meteorologia dinamarquês, a área de gelo do Árctico atingiu valores que já não se verificavam desde 2006. No pólo Sul tem-se assistido a um fenómeno semelhante, desafiando as previsões dos cientistas ligados às teorias do “aquecimento global” antropogénico. Num artigo publicado no “Journal of Geophysical Research” em Junho de 2013, os investigadores Irina Mahlstein, Peter R. Gent e Susan Solomon apontam para um “lento aumento da cobertura gelada da Antárctica desde que as observações por satélite começaram, em 1979”. Tendência que, de acordo com os dados do “National Snow and Ice Data Center” (EUA), tem vindo a acentuar-se nos últimos anos. Numa análise ao ano de 2013, o centro afirmou que “durante um extenso período ao longo dos meses de Inverno e Primavera, a extensão de gelo na Antárctida atingiu valores nunca registados na era dos satélites modernos”.
Não deixa por isso de ser irónico que no final de 2013 uma expedição científica que tinha como objectivo estudar os impactes das “alterações climáticas” na Antárctica tenha acabado presa… num banco de gelo. Apesar de a página da “Australasian Antarctic Expedition 2013-2014” na internet mencionar claramente que o objectivo da expedição passava por “documentar e comunicar as mudanças que estão a ocorrer” na Antárctida, a maior parte da imprensa ignorou estas ligações, optando por classificar os elementos da viagem como “turistas”. A verdade inconveniente é que a direcção da expedição estava a cargo de Chris Turney, professor de Alterações Climáticas na Universidade de New South Wales (Austrália) e defensor entusiástico das teorias do “aquecimento global” antropogénico. Da mesma forma, a viagem contou com enviados da BBC e do “The Guardian”, meios de comunicação particularmente empenhados na difusão das teorias do “aquecimento global” antropogénico. Em pleno Verão do Pólo Sul, após mais de uma semana retidos no navio russo “MV Akademik Shokalskiy”, os elementos da expedição acabaram por ser resgatados de helicóptero.
Artigo publicado na edição de 14 de Janeiro de 2014 do semanário «O Diabo».

Área de gelo da Antárctida bate recorde

Área gelada da Antárctida a 15 de Janeiro de 2014 (NOAA/NSIDC).

O dia de ontem, 15 de Janeiro de 2014, marca o primeiro recorde da área gelada da Antárctida do ano. De acordo com dados do National Snow and Ice Data Center, que monitoriza em tempo real a extensão de gelo dos do Árctico e da Antárctida, desde que se iniciaram as medições por satélite em 1979 nunca se registou maior área de gelo na Antárctida a 15 de Janeiro. O recorde anterior datava de 2008 e foi superado em 26.500 km2. Ao contrário do que anunciam os profetas da desgraça, há cada vez mais gelo em redor da Antárctida.

Valor diário da área gelada da Antárctida (via Sunshine Hours).

A profecia de Al Gore: onde está o aquecimento?

Já passaram oito anos desde que Al Gore afirmou, em Janeiro de 2006, que tínhamos apenas 10 anos para resolver o problema do "aquecimento global". Como afirma Roy Spencer, de quem já aqui falámos, "na grande tradição dos profetas da desgraça, o seu prognóstico não está a concretizar-se lá muito bem". Como ilustra o gráfico, já passaram 8 anos e ainda não se verificou qualquer aquecimento estatisticamente significativo.

Variações de temperatura (em graus Fahrenheit) na atmosfera inferior desde a profecia de Al Gore, em 2006.

As «alterações climáticas» aumentam a frequência de eventos extremos?

Com a vaga de frio polar que atacou a América do Norte e a tempestade que assolou a costa portuguesa nas últimas semanas, uma afirmação tornou-se constante na imprensa: «fenómenos extremos como estes serão cada vez mais frequentes nos próximos anos, em consequência das alterações climáticas». A verdade é que não existem evidências que sustentem esta afirmação, e repeti-la mil vezes não a torna mais próxima da realidade.

Efeitos da tempestade Hercules na região do Massachusetts, EUA.

De facto, quando se fala em eventos como o vórtice polar que provocou uma queda abrupta das temperaturas na América do Norte, esta afirmação contraria justamente as conclusões do relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC), o grupo de cientistas mais empenhado na defesa das teorias do "aquecimento global" antropogénico:
«Na maior parte das áreas do hemisfério norte prevê-se um decréscimo da frequência de períodos de frio extremo com duração de vários dias a uma semana».
Por seu lado, um estudo recente da Professora Elizabeth Barnes, da Universidade do Colorado, publicado em 2013 pela revista Geophysical Research Letters, concluiu que não é possível estabelecer uma tendência entre alterações na circulação do Árctico e a ocorrência de fenómenos extremos em médias latitudes do hemisfério norte. Também os dados disponibilizados pelo National Climatic Data Center dos EUA permitem tirar conclusões interessantes. O gráfico seguinte representa a percentagem do país sujeita a temperaturas mínimas extremas durante o Inverno desde 1911. Como é perceptível, não se observa qualquer tendência clara no gráfico. Ao contrário do que é veiculado pela imprensa até à exaustão, os dados disponíveis não levam a crer que vagas de frio como a que atingiu a América do Norte na semana passada estejam a tornar-se mais frequentes ou mais fortes.

Percentagem dos EUA sujeita a temperaturas mínimas extremas durante o Inverno (NOAA-NCDC).

Mitos Climáticos

No arranque deste blogue seria injusto não deixar uma palavra de apreço pelo contributo do Eng. Rui Gonçalo Moura para o debate das "alterações climáticas". Através do blogue Mitos Climáticos, criado no já longínquo ano de 2005, o Eng. Rui Moura foi uma das primeiras pessoas a trazer para a blogosfera portuguesa a discussão sobre as dinâmicas climáticas. Apesar de ter falecido em 2010, a forma séria como enfrentou os mitos do "aquecimento global", assim como o importante legado científico que deixou, continuam a ser uma referência fundamental.

Cepticismo em relação ao aquecimento global para totós

Roy W. Spencer
Roy W. Spencer é um climatologista norte-americano que mantém um popular blogue na internet sobre as questões do "aquecimento global". Doutorado em meteorologia pela Universidade de Wiscosin-Madison, é actualmente investigador na Universidade do Alabama em Huntsville. Anteriormente, trabalhou largos anos na agência espacial norte-americana (NASA). É ainda autor do livro Climate Confusion, sobre as consequências da histeria em torno do "aquecimento global" para a ciência e para a própria sociedade. No seu blogue, Roy W. Spencer tem uma interessante secção de "cepticismo em relação ao aquecimento global para totós", que responde de forma relativamente acessível a uma série de perguntas frequentes sobre este tema.

1) As temperaturas globais estão a subir?
Não há forma de saber, já que a variabilidade natural da temperatura global é muito grande de ano para ano, com aquecimento e arrefecimento a ocorrerem constantemente. O que podemos dizer é que a temperatura à superfície e na atmosfera inferior aumentou nos últimos 30 a 50 anos, com a maior parte desse aquecimento a verificar-se no hemisfério norte. Além disso, a magnitude do aquecimento recente é de certa forma incerta devido às dificuldades na medição de temperatura a longo prazo com termómetros, já que essas medições são invalidadas por uma grande variedade de efeitos não-climáticos. Não há forma de saber se as temperaturas vão continuar a subir... só vemos o aquecimento (ou arrefecimento) pelo retrovisor, quando olhamos para trás no tempo.

2) Porque é que alguns cientistas dizem que o clima está a arrefecer enquanto outros dizem que o aquecimento está na verdade a acelerar?
Como existe uma grande variabilidade entre as temperaturas médias de ano para ano (e até de década para década), o aquecimento ou arrefecimento depende de quanto recuamos no tempo. Por exemplo, ao longo dos últimos 100 anos verificou-se um aquecimento geral, que se intensificou no fim do século XX. É por isso que alguns dizem que o "aquecimento está a acelerar". No entanto, se olharmos a curto prazo num período de tempo mais recente, desde o ano mais quente de 1998, pode dizer-se que o clima arrefeceu nos últimos 10-12 anos. Ou seja, como mencionei anteriormente, nada disto pode dizer-nos se o aquecimento está a ocorrer "agora", ou se ocorrerá no futuro.

3) As temperaturas globais não aumentaram anteriormente?
Sim. A longo prazo, na ordem das centenas a milhares de anos, existem dados indirectos consideráveis (não registados por termómetros) que indicam a existência de períodos de aquecimento e arrefecimento. Como a humanidade não pode ser responsável por estes eventos primordiais, conclui-se que a natureza pode causar aquecimento e arrefecimento. Se é esse o caso, então abre-se a possibilidade de (grande) parte do aquecimento registado nos últimos 50 anos ter também origem natural. Apesar de muitos geólogos gostarem de apontar a grandes variações de temperaturas que se acredita terem ocorrido há milhões de anos, não acredito que isso tenha utilidade para a compreensão de como os humanos podem influenciar o clima a escalas temporais de 10 a 100 anos.

4) Mas o gráfico do "stick de hóquei" não mostrava que o aquecimento recente não tinha precedentes?
As reconstituições do "stick de hóquei", que pretendiam representar as variações de temperatura ao longo dos últimos 1000 a 200 anos foram uma enorme fonte de controversa. O "stick de hóquei" já tinha sido usado pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC) como um exemplo prático do aquecimento antropogénico, já que parecia indicar a ausência de variações de temperatura substanciais ao longo dos últimos 1000 a 2000 anos, até que a humanidade chegou ao século XX. As várias versões do gráfico do "stick de hóquei" estavam baseadas em volumes limitados de dados indirectos de temperatura (na maior parte, anéis de crescimento das árvores) e envolviam métodos estatísticos questionáveis. Na verdade, o grosso dos dados indirectos existentes apoia a teoria de que as temperaturas registadas durante o Período Quente Medieval, por volta do ano 1000, são pelo menos tão altas como as que se verificam actualmente. O facto de os anéis de crescimento das árvores indicarem erradamente um arrefecimento nos últimos 50 anos, quando na verdade ocorreu um aquecimento, devia ser um aviso para quem insiste em usar estes dados para determinar quão quente era o clima há 1000 anos atrás. Sem dados de termómetros, nunca saberemos com certezas.

Gráfico do "stick de hóquei", tal como foi apresentado pela primeira vez em 1998.

5) A fusão do gelo do Árctico não é uma prova do Aquecimento?
Aquecimento, sim... Aquecimento provocado pelo homem, não. O gelo do Árctico funde naturalmente todos os Verões, mas a retracção da cobertura de gelo do Árctico atingiu um pico em 2007. No entanto, só temos medidas precisas da cobertura de gelo do Árctico (e da Antárctida) desde 1979, quando começou a era dos satélites. É totalmente possível que a cobertura gelada do Árctico esteja aos mesmos níveis dos anos 1920 ou 1930, um período que os dados de termómetros do Árctico levam a crer que foi tão quente como o actual. Infelizmente não há maneira de saber, já que não tínhamos satélites na altura. Curiosamente, nos últimos 30 anos a cobertura gelada da Antárctida tem vindo a crescer a um ritmo tão rápido quanto o gelo do Árctico tem derretido.

6) E o aumento nível do mar?
Devo confessar, não presto muita atenção ao tema do nível do mar. Posso dizer que, ao nível que o aquecimento está a ocorrer, o nível do mar pode também subir. A subida deve-se parcialmente à expansão térmica da água e parcialmente à fusão de gelo existente em terra (cobertura da Gronelândia e da Antárctida, assim como os glaciares de montanha). No entanto, isto não diz nada da influência do ser humano na causa desse aquecimento. Se existem evidências do recuo de glaciares e do aumento do nível do mar bem antes de o ser humano poder ser considerado culpado, a causa é — uma vez mais — uma grande fonte de incertezas.

7) O aumento do dióxido de carbono (CO2) pode causar o aquecimento?
Existem pessoas muito inteligentes que afirmam que adicionar mais dióxido de carbono à atmosfera não causa aquecimento. Argumentam que "as formas de absorção de CO2 pela atmosfera já estão saturadas", ou algo assim muito técnico. Embora seja verdade que a maior parte do aquecimento associado à emissão de CO2 já existia antes de os humanos começarem a queimar carvão a e guiar SUVs, tudo isto é tido em conta pelos modelos climáticos que prevêem o aquecimento global. Adicionar mais "deveria" causar aquecimento, com a magnitude desse aquecimento a ser a verdadeira questão. Continuo aberto à possibilidade de um grande erro ter sido cometido neste ponto fundamental. Já aconteceram coisas mais estranhas na ciência.

8) O CO2 na atmosfera está a aumentar?
Sim, e de forma mais acelerada nos últimos 50 anos... sendo por isso que a "maioria" dos investigadores do clima defendem que o aumento do CO2 é a causa do aquecimento. As nossas medições do aumento de CO2 em vários pontos do mundo são possivelmente as medições a longo-prazo mais precisas que existiram no que diz respeito ao clima.

9) Os humanos são responsáveis pelo aumento de CO2?
Embora se verifiquem flutuações de curto prazo (de ano para ano) na concentração de CO2 na atmosfera devido a causas naturais, especialmente devido ao El Niño e La Niña, acredito actualmente que a maior parte do aumento a longo prazo deve-se provavelmente ao nosso uso de combustíveis fósseis. Mas do que eu posso dizer, a suposta "prova" dos humanos serem a fonte do aumento de CO2 — uma mudança na concentração atmosférica do isótopo do carbono C13 — pode ser consistente com uma fonte natural e biológica. O nível actual de CO2 na atmosfera é de 390 partes por milhão, enquanto o nível pré-industrial estimado era de cerca de 270 partes por milhão... ou talvez menos. Os níveis de CO2 podem ser muito mais elevados em cidades, assim como em edifícios com muita gente.

10) Mas as emissões naturais de CO2 não são 20 vezes maiores que as emissões humanas?
Sim, mas acredita-se que a Natureza é capaz de absorver CO2 ao mesmo ritmo que o produz. Podemos imaginar o volume de CO2 atmosférico como um reservatório gigantesco de água, com Natureza a bombear um caudal constante para o fundo do reservatório (atmosfera) em alguns sítios, escoando o mesmo caudal em outros sítios, e depois os humanos a produzirem um pingue-pingue constante para dentro do reservatório. Significativamente, cerca de 50% do que produzimos é retirado da atmosfera pela Natureza, a maior parte através da fotossíntese. A Natureza adora CO2. É o elixir da vida na Terra. Imaginem os gritos de protesto que haveria se estivéssemos a destruir o CO2 atmosférico, em vez de produzir mais.

11) O aumento do CO2 é a causa para o recente aquecimento?
Embora seja teoricamente possível, acredito que o aquecimento é em grande medida natural. De qualquer forma, não temos forma de determinar quanto do aquecimento tem causas naturais ou humanas.

12) Porque é que a maior parte dos cientistas acredita que o CO2 é responsável pelo aquecimento?
Porque (como já me disseram) não conseguem atribuir este aquecimento a mais nada. Na verdade, não é que existam provas que a Natureza não possa ser a causa. Há é uma falta de dados suficientemente precisos que determinem que a Natureza é a causa. É uma diferença fundamental, e o público e os políticos têm sido mal guiados pelo IPCC nesta área.

13) Se não foram os humanos, o que é que pode ter causado este aquecimento recente?
Essa é uma das minhas áreas de investigação. Acredito que as alterações naturais na radiação solar que é absorvida pela Terra — devido a alterações naturais na cobertura de nuvens — são responsáveis pela maior parte do aquecimento. Se isto é um mecanismo específico ou não, alinho na minoria que acredita que o sistema climático pode mudar por si próprio. As alterações climáticas não implicam uma fonte natural "externa" de forçamento, como uma mudança no Sol.

14) Portanto, o que poderá causar alterações naturais às nuvens?
Acredito que pequenas alterações no padrão de circulação da atmosfera e dos oceanos podem a longo prazo causar ~1% das mudanças na quantidade de radiação solar que as nuvens permitem aquecer a Terra. Isto é o suficiente para causar aquecimento ou arrefecimento global. Infelizmente, não temos medições suficientemente precisas das nuvens para determinar se esta é a causa principal do aquecimento nos últimos 30 a 50 anos.

15) Quão significativa é a fuga de emails do chamado Climategate?
Embora o Climategate não invalide, por si só, as teorias do IPCC de que o aquecimento global aconteceu e que os humanos são a causa principal para esse aquecimento, ilustra algo a que dei relevo no meu primeiro livro Climate Confusion: os investigadores do clima são humanos, e estão sujeitos a desvios.

16)  Porque é que os desvios na investigação do clima são tão importantes? Pensava que os cientistas se limitavam a seguir os resultados a que chegavam.
Quando os investigadores científicos abordam um problema, deixam-se normalmente guiar pelas suas noções pré-concebidas. Não quer dizer que a conclusão do IPCC de que os humanos causem o aquecimento global seja errada ou impossível. O problema está nas pressões políticas e financeiras que levaram a que o IPCC ignorasse quase por completo as explicações alternativas para esse aquecimento.

17) Quão importante é o "consenso científico" na investigação do clima?
No caso do aquecimento global, não tem qualquer valor. O sistema climático é tão complexo que a grande maioria dos cientistas do clima — normalmente especialistas em temas muito particulares — assume que há cientistas mais conhecedores, e que apoiam apenas as opiniões dos seus colegas. No meio deste pequeno grupo de cientistas mais conhecedores, há um considerável elemento de pensamento de grupo, espírito de manada, pressão dos pares, pressão política, apoio de determinadas políticas energéticas, e desejo de salvar a Terra — quer ela precise ou não.

19) Quais são as minhas previsões para as alterações nas temperaturas globais no futuro?
Não gosto de fazer previsões a longo prazo, até porque existem ainda muitas incertezas. Se fosse pressionado, diria que no futuro o arrefecimento é uma possibilidade tão real como o aquecimento. É claro que uma terceira hipótese é uma relativa estabilização das temperaturas, sem aquecimento ou arrefecimento significativos a longo prazo. Mas é importante ter em mente que, enquanto podemos verificar se a previsão meteorológica para amanhã está certa ou errada, daqui a 50 anos ninguém se lembrará se um cientista tiver previsto hoje que morreríamos todos de ataque cardíaco em 2060.

Apresentação

A Ciência não tem dogmas. O método científico baseia-se na observação de fenómenos e na formulação de hipóteses que os expliquem. Como tal, em ciência todas as teorias estão sujeitas a discussão e todas as teorias podem ser melhoradas ou rebatidas. As teorias do "aquecimento global" ou, como se convencionou chamar, das "alterações climáticas", não são excepção. Apesar das manchetes bombásticas e das profecias apocalípticas, não existe consenso científico sobre as teorias das "alterações climáticas". Pelo contrário, existem cada vez mais dúvidas a este respeito. Assim nasce o blogue Chuva Molha Parvos, dedicado à divulgação em língua portuguesa da discussão sobre as teorias do "aquecimento global" e das "alterações climáticas". Com a certeza de que o mundo não acaba amanhã.